Presidente anunciou ampliação de programa social para incluir 9 mil famílias quilombolas
LUIZA DAMÉ e JÚNIA GAMA
BRASÍLIA - Na
comemoração do Dia da Consciência Negra, nesta quarta-feira, a presidente Dilma
Rousseff defendeu ações concretas para reverter a vulnerabilidade das condições
das comunidades quilombolas no Brasil, citando a regularização fundiária como a
base dessa mudança e como primeiro passo para promover a cidadania. Ao anunciar
a ampliação de ações voltadas para as comunidades quilombolas, Dilma afirmou
que o governo está "reparando injustiças históricas".
- Estamos também
reparando injustiças históricas. Temos de saber a importância das nossas raízes
nacionais e não podemos nunca pensar o Brasil como nação sem pensar a
contribuição dos afrodescendentes e que o continente africano deitaram aqui no
Brasil - afirmou.
A presidente
destacou a comemoração do Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de
novembro, como um momento de afirmar a luta contra a opressão:
- Zumbi dos
Palmares entrou para nossa história como símbolo de resistência e da luta
contra a escravidão, a luta protagonizada pelos quilombos. Para nós é muito
importante afirmar essa condição de Zumbi dos Palmares porque a história do
passado muitas vezes foi escrita escondendo a luta das populações negras contra
a escravidão. Afirmar Zumbi dos Palmares significa também um resgate da
história das populações negras contra a sua opressão, submissão e escravidão.
Os quilombolas, herdeiros dos "guerreiros do passado", travam hoje a
luta pelo reconhecimento no presente e pela igualdade de oportunidades.
Dilma disse que as
comunidades quilombolas ficaram esquecidas por longo tempo no Brasil e que,
somente em 2004, a partir do governo Lula, foi adotada política específica para
os quilombolas.
- A desigualdade
no nosso país tem gênero, é dominantemente feminina; ela tem raça, tem a face
negra; tem idade, afeta duramente as crianças (...). Fazer política social no
nosso país significa atender a população que foi tradicionalmente afastada dos
ganhos e das riquezas. Temos que combinar essa política ampla, como é o caso do
Brasil Sem Miséria, do Bolsa Família, com políticas voltadas para ações
afirmativas de raça e de gênero.
A presidente
afirmou que a política voltada para os quilombolas é necessária pela
"importância simbólica" do grupo, que representa a luta contra a
escravidão no país.
- Quilombolas não
são apenas uma parte da sociedade, representam um momento de luta da população
negra contra a escravidão no país. Tem uma importância simbólica, porque tem
raiz na realidade, diz respeito a uma terrível realidade que o país tem sempre
de voltar a ela, que é a realidade terrível da escravidão, que distorceu
valores do nosso país, como não valorizar o trabalho manual e transformar uma
parte do país em uma parte sem direito. Um país que teve há pouco mais de cem
anos escravidão não pode deixar de lembrá-la, porque lembrá-la é condição para
que nós a superemos em todas as dimensões e consequências.
Na solenidade foi
anunciada a ampliação do programa Brasil Quilombola, com a inclusão de ações do
Brasil sem Miséria, voltadas para a inclusão produtiva e o acesso às políticas
sociais, como assistência técnica para 9.000 famílias, oferta de água para 92
mil famílias e inclusão no Programa de Aquisição de Alimentos. Também foram
entregues títulos - etapa conclusiva do reconhecimento de comunidades
quilombolas -, beneficiando 202 famílias de Sergipe. Outras 11 comunidades
foram declaradas de interesse social e 23 receberam certidões de
reconhecimento. A presidente assinou decretos para desapropriação de terras
para quilombolas em seis estados.
A ministra do
Desenvolvimento Social, Tereza Campello, disse que a população negra representa
cerca de 50% dos brasileiros, mas são 72% das pessoas em situação de extrema
pobreza - 74% dos beneficiários do Bolsa Família e 82% do Brasil Carinhoso. Os
dados, segundo a ministra, mostram que as ações dos programas sociais têm de
ser voltadas para a inclusão da população negra.
- Esse quadro
revela que temos conseguido chegar à população que nais precisa, mas também é
revelador de uma triste realidade: a miséria atinge mais a população negra -
afirmou.
A ministra disse
que a nova versão do cadastro único dos beneficiários de programas sociais terá
um espaço destinado à identificação de quilombolas para planejamento de ações
voltadas a essas comunidades. Segundo ela, isso permitirá levar aos quilombolas
políticas como tarifa social de energia elétrica, construção de cisternas e Luz
para Todos.
A ministra da
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, na
última década, a renda dos afrodescendentes subiu 43,9% contra 19,8% dos
brasileiros brancos. Dos beneficiários do Prouni (programa que concede bolsa de
estudos a estudantes pobres), 47% são negros. O programa de cotas das
universidades federais, segundo a ministra, levou 8.700 negros para o ensino
superior. A expectativa, disse a ministra, é que, com as novas regras das cotas
de acesso ao ensino superior, esse número passe para 50 mil ao ano. Já a
presidente destacou que política de cotas é um dos "grandes avanços"
do Brasil. Ela disse
ainda que o governo estuda criar cotas para negros no serviço público.
- Acreditamos que,
quando incluirmos comunidades quilombolas, teremos ultrapassado o legado mais
perverso da negação do racismo que tem marcado e marcou a maior parte da
história republicana do Brasil - disse a ministra.
Representante do
movimento quilombola, Maria Rosalina dos Santos, reconheceu e agradeceu as
políticas sociais voltadas para as comunidades quilombolas, mas cobrou mais
agilidade na execução dos programas sociais.
- Trago aqui um
pedido do Nordeste: que haja mais agilidade. Os programas sociais existem, mas
existe a burocracia e existe a politicagem, que usa os programas sociais -
afirmou.
Fonte:http://oglobo.globo.com/pais/dilma-governo-esta-reparando-injusticas-com-acoes-para-quilombolas-6787331
Nenhum comentário:
Postar um comentário