Cultura



Cartilha Cotas Raciais

Filmes sobre Racismo
  O tema que escolhi hoje é um dos mais prolíficos do cinema.  São inúmeros os bons filmes que falam sobre racismo. Para facilitar, me concentrei apenas em racismo contra negros.  De outras minorias, tratarei em listas futuras. Muitos desses filmes se passam até a década de 60, mas é incrível notar que essa abominação, baseada  em ignorância, o racismo, persiste até os dias de hoje. Aqui vai minha lista de 12. Aguardo seus comentários e sugestões de outros títulos.
Amistad (negros escravizados se rebelam e tomam o navio espanhol na costa de Cuba, enganados pelos tripulantes restantes, acabam capturados por um navio  americano e uma batalha judicial se inicia. Não é dos melhores filmes de Spielberg, mas é didático na descrição do cruel transporte de escravos).


Uma Outra História Americana - (Edward Norton é o líder de um grupo de skinheads  que mata dois negros que invadem sua casa e  vai para a cadeia por 3 anos. Na prisão percebe  que o ódio racial que pregava só lhe traz prejuízos.  quando sai, tenta desfazer sua imagem, mas suas  antigas idéias ficaram impregnadas no seu grupo e no próprio irmão).


Malcolm X (biografia de um dos grandes líderes  negros americanos. Denzel Washington faz Malcolm X, que teve  o pai morto pela Ku Kux Klan, a mãe internada por insanidade e  acabou sendo um malandro de rua. Quando esteve preso, converteu-se ao islamismo e iniciou sua pregação pela igualdade racial).

 A Autobiografia de Miss Jane Pittman - (feito para TV e estrelado por Cicely Tyson, é um filme tocante. A história de uma mulher negra, que nasceu escrava em 1850  e viveu para fazer parte dos movimentos pelos direitos civis dos negros nos anos 1960. ganhou 8 prêmios Emmy).

Tempo de Matar (uma garota negra de apenas 9 anos é estuprada por dois racistas brancos. Eles são presos,  mas quando estão sendo levados ao tribunal, são mortos pelo  pai da garota. O caso atrai atenção nacional e a cidade vira um barril de pólvora). 


 Mississipi em Chamas - (em 1964, dois agentes do FBI vão a uma cidadezinha do Mississipi investigar os assassinatos de três militantes  dos direitos civis, dois negros e um judeu. na cidade  encontram um ambiente muito tenso, onde a segregação e o preconceito são a tônica). 

 Adivinhe Quem Vem para Jantar  - (um casal esclarecido de classe média americana - Spencer Tracy e Katharine Hepburn - vai conhecer o noivo da filha num jantar, quando descobrem que ele é negro - Sidney Poitier. eles ficam chocados e procuram por algo que o desabone, mas encontram uma pessoa com muitas qualidades morais e profissionais. um tanto teatral, mas com um roteiro e interpretações brilhantes).

 As Barreiras do Amor - (Michelle Pfeiffer é uma dona de casa obcecada pelo casal Kennedy e decide, contra a vontade do marido,  ir de ônibus para o funeral do presidente. no ônibus, senta-se próxima a um negro, que viaja com a filha de 5 anos.  ela desconfia que o homem está sequestrando a garota e aciona a polícia, mas vê que estava errada e acaba desenvolvendo uma forte amizade com eles um retrato do preconceito nos anos 60). 


 Um Grito de Liberdade - (nos anos 70 na África do Sul, um jornalista branco - Kevin Kline - fica amigo de um ativista negro, Stephen Biko - vivido por Denzel Washington - que acaba morto na prisão. O jornalista então resolve divulgar o fato, as idéia de Biko e os horrores do apartheid, mas acaba virando alvo do regime e tem que fugir do país) .  

 Bopha! Á Flor da Pele - (dirigido por Morgan Freeman  o filme tem boas intenções em denunciar o regime do apartheid na África  do Sul, através da história de um policial negro, que se orgulha de fazer  parte do regime e acaba entrando em conflito com sua própria família).

 A Família da Noiva - Percy Jones (Bernie Mac) é um chefe de família que se orgulha de estar sempre certo em relação a sua família. Ele está prestes a conhecer Simon Green (Ashton Kutcher), o novo namorado de sua filha Theresa (Zoe Saldana). Temeroso, já que acredita que não exista homem bom o suficiente para sua filha, Percy encomenda uma investigação de crédito de Simon. O resultado o tranquiliza, já que Simon é um bem sucedido corretor de ações, com Percy acreditando que ele seja um ótimo pretendente para Theresa. Porém o que ele não contava era que Simon fosse branco. Surpreso com a situação, Percy começa a questionar Simon sobre sua vida e suas origens. Mas o que Percy não sabe é que Simon já pediu Theresa em casamento e que o casal pretende anunciar o noivado na festa de bodas de prata do casamento dos pais dela.

 Kiriku e a Feiticeira - Na África Ocidental, nasce um menino minúsculo, cujo tamanho não alcança nem o joelho de um adulto, que tem um destino: enfrentar a poderosa e malvada feiticeira Karabá, que secou a fonte d'água da aldeia de Kiriku, engoliu todos os homens que foram enfrentá-la e ainda pegou todo o ouro que tinham. Para isso, Kiriku enfrenta muitos perigos e se aventura por lugares onde somente pessoas pequeninas poderiam entrar.


O OLODUM, BOB MARLEY E O REGGAE QUE NÃO PODE MORRER, BY JOÃO JORGE
A comunidade de origem africana nas Américas desenvolveu ritmos para se exprimir através das músicas que falam de sofrimento, das angústias, das conquistas, das alegrias e tristezas, de fé e de sensibilidade com a vida., libertação, músicas de protesto. Um destes ritmos, criado na Jamaica, conhecido em todo o mundo como Reggae espalhou-se pelo mundo e fincou raízes no Brasil, em especial na Bahia e Maranhão. O reggae é também um estilo de vida, expresso na maneira de ser, de se comportar e de pensar. Uma legião, independente de classe social ou etnia, cultua a "música de Jah". Em Salvador, a Roma negra, a maior capital dos afrodescendentes nas Américas., o reggae expandiu-se para além dos bares negros e do Pelourinho do Olodum e do Muzenza para ser  a música de uma maioria que protesta e sonha com um mundo melhor O Olodum nos anos 80 incorporou a nossa linguagem cultural as cores do Reggae , a batida do reggae e assim a saga musical do Olodum pelo mundo encontrou parceiros do Reggae para aumentar a fertilização do solo musical.  E no carnaval de 1989 com o enredo "Núbia , Axum ,e Etiópia o Olodum contou a história  do Rastafarianism através da Rainha de Sabá - Makeda de Axum a mulher africana que foi a mais importante esposa do Rei Salomão nos tempos bíblicos . O Rastafarianismo baseia-se na crença de que os Etíopes são os judeus originais e o Hailê Selassiê retomou esta tradição do começo da humanidade . Tudo isto foi divulgado pelo bloco Olodum como educação de rua . O Olodum gravou o Reggae dos Faraós de Adailton e Walter na voz de Betão já no primeiro disco em 1987 e depois músicas espetaculares tais como: "Encantada nação, Denuncia , Reggae Odoiá , As duas Histórias ,  Amangi  e Imiss Her (Pom Pom), No Womam no Cry,  .   A Banda Olodum tocou com grandes feras do reggae tais como: The Walleirs, Alpha Blondy , Zigg Marley , Inner Circle, Mutabaruka, Linton Kesy Jonshon, Jimmy Cliff Koko Dembele,  U - Roy . Um longo caminho da história negra atual através da arte e da cultura. O Samba - reggae é uma criação do espirito e da alma da civilização africana na diáspora negra é o encontro histórico com as raízes e história da humanidade desenvolvido na Bahia no Brasil. Através da energia transnacional dos tambores, vozes e swing dos artistas de ruas para encontrar a liberdade a igualdade e a justiça. O Olodum é parte da história do Reggae na Bahia por isto queremos convidar todos os que gostam da boa música e de dançar para comemorar a força do Reggae de uma forma moderna o Olodum escolheu realizar esta homenagem ao Reggae e a Bob Marley para divulgar os valores emergentes do reggae na Bahia. O Reggae não pode morrer. Germano Meneghel / Legel / Sílvio de Almeida O Reggae não pede morrer O Reggae não pode acabar Enquanto existir a nação Rastafari Então o lema é reggear Ritmo tão envolvente Que faz a mente do mal Se libertar Já que o Olodum é Liberdade Reggeando por toda cidade Rastafari, Rastafari, Rastafari Curtindo o reggae na praça Rastafari, Rastafari, Rastafari Tributo a Bob Marley Da Jamaica Na Bahia a bandeira da Jamaica É hasteada em território nacional Soteropolitano, jamaicano Reggeando fevereiro é carnaval.

Negras na Historia

 Adelina - A Charuteira        

Escrava e abolicionista. Maranhense, de São Luís, Adelina era filha de uma escrava com um senhor. Sabia ler e escrever, porém seu pai não cumpriu a promessa de libertá-la aos 17 anos de idade.

Já na adolescência, seu pai empobreceu e passou a fabricar charutos. Adelina era então sua vendedora, circulando pela cidade, vendia charutos para os bares da cidade, bem como para fregueses avulsos. No Largo do Carmo, onde costumava parar, vendia charutos para os estudantes do Liceu, onde teve a oportunidade de assistir a comícios abolicionistas promovidos por esses.

Com a facilidade em que circulava pela cidade, Adelina era uma importante informante a cerca das ações da polícia aos ativistas e ainda ajudava na fuga de escravos, cooperando assim com o movimento abolicionista.

Fontes:- Caderno de Formação do MNU - Movimento negro Unificado.
- Dicionário Mulheres do brasil - De 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Jorge Zahar Editor, 2000.

Ana

Liderou uma revolta de escravos ocorrida em uma fazenda no interior do Ceará, no ano de 1835.

Ana, fingindo submissão aos capangas da fazenda onde era escrava, facilitou a entrada dos escravos rebelados à casa grande, tomando-a de assalto, mataram todos os que estavam na casa, e ateou fogo a propriedade, situada na serra do Ibiapaba, no Ceará. Alguns dos escravos revoltos fugiram rumo a Pernambuco, outros, liderados por Ana, libertou da cadeia do lugar o senhor Jerônimo Cabaceira, proprietário de um sítio na região, preso por ter se recusado a vender suas terras ao Senhor Francisco Carvalho, proprietário dos escravos revoltados.

Este era conhecido na região por atos violentos e autoritários, ausente de sua propriedade no instante da revolta, tentou ao tentar retornar, foi interpelado por Jerônimo Cabaceira e seus irmãos, o que provocou o enforcamento de Francisco Carvalho. A revolta se deu num instante de indignação dos escravos da senzala contra os violentos castigos impostos a uma velha escrava que cuidava dos enfermos.

Fontes: Caderno de Formação do MNU - Movimento negro Unificado.
- Dicionário Mulheres do brasil - De 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Jorge Zahar Editor, 2000.

Aqualtune

Era uma princesa africana, filha do importante Rei do Congo. Numa guerra entre reinos africanos, foi derrotada, juntamente com seu exército de 10 mil guerreiros e transformada em escrava. Foi levada para um navio negreiro e vendida ao Brasil, vindo para o Porto de Recife.

Comprada como escrava reprodutora foi levada para região de Porto Calvo, no sul de Pernambuco. Lá conheceu as histórias de resistência dos negros na escravidão, conhecendo então a trajetória de Palmares, um dos principais Quilombos negros durante o período escravocrata. Aqualtune, nos últimos meses de gravidez, organizou uma fuga junto com outros escravos para o quilombo, onde teve sua ascendência reconhecida, recebendo, então, o governo de um dos territórios quilombolas, onde as tradições africanas eram mantidas.

Aqualtune era da família de Ganga Zumba, e uma de suas filhas teria gerado Zumbi. Em uma das guerras comandadas pelos paulistas para a destruição de Palmares, a aldeia de Aqualtune, que já estava idosa, foi queimada. Não se sabe ao certo a data de sua morte.

Fontes: Caderno de Formação do MNU - Movimento negro Unificado.
- Dicionário Mulheres do brasil - De 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Jorge Zahar Editor, 2000.

Luíza Mahin

Africana guerreira, teve importante papel na Revolta dos Malês, na Bahia. Além de sua herança de luta, deixou-nos seu filho, Luiz Gama, poeta e abolicionista. Pertencia à etnia jeje, sendo transportada para o Brasil, como escrava.Outros se referem a ela como sendo natural da Bahia e tendo nascido livre por volta de 1812. Em 1830 deu à luz um filho que mais tarde se tornaria poeta e abolicionista. O pai de Luiz Gama era português e vendeu o próprio filho, por dívida, aos 10 anos de idade, a um traficante de escravos, que levou para Santos.

Luiza Mahin foi uma mulher inteligente e rebelde. Sua casa tornou-se quartel general das principais revoltas negras que ocorreram em Salvador em meados do século XIX. Participou da Grande Insurreição, a Revolta dos Malês, última grande revolta de escravos ocorrida na Capital baiana em 1835. Luiza conseguiu escapar da violenta repressão desencadeada pelo Governo da Província e partiu para o Rio de Janeiro, onde também parece ter participado de outras rebeliões negras, sendo por isso presa e, possivelmente, deportada para a África.Luiz Gama escreveu sobre sua mãe: "Sou filho natural de uma negra africana, livre da nação nagô, de nome Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã. Minha mãe era baixa, magra, bonita, a cor de um preto retinto, sem lustro, os dentes eram alvíssimos, como a neve. Altiva, generosa, sofrida e vingativa. Era quitandeira e laboriosa". Luiza Mahin teve outro filho, lembrado em versos por Luiz Gama, cuja história é ignorada. Em 9 de março de 1985, o nome de Luiza Mahin foi dado a uma praça pública, no bairro da Cruz das Almas, em São Paulo, área de grande concentração populacional negra, por iniciativa do Coletivo de Mulheres Negras/SP.

Maria Firmina dos Reis

Apesar de ser considerada por alguns autores como a primeira romancista brasileira - seu livro Úrsula é de 1859 - pouco se sabe da vida desta maranhense bastarda e negra. Nascida em São Luís (1825-1917), disputou em 1847 uma vaga para a cadeira de professora de primeiras letras em Guimarães.

Orgulhosa com a vitória da filha, a mãe alugou um palanquim - espécie de cadeira carregada por dois escravos - para que fosse receber o documento da nomeação. Revoltada, Maria Firmina recusou, afirmando que negro não era animal para andar montado nele! Contrária à escravidão em suas atitudes, também usou os seus escritos para denunciá-la. Acreditava que a escravidão contradizia os princípios do cristianismo, que ensinava o homem a amar o próximo como a si mesmo. Via o escravo como uma pessoa digna, capaz de sentimento nobres mesmo tendo vivido tantos anos sob o regime degradante do cativeiro.Seu livro Úrsula pode ser considerado o primeiro romance abolicionista escrito por uma brasileira. Colaborou ainda na imprensa local com poesias e contos; escreveu um livro em comemoração ao 13 de maio, além de ser autora de vários folguedos. Aos 55 anos, um ano antes de aposentar-se do magistério público oficial, fundou em Guimarães uma escola mista e gratuita para crianças pobres. Como professora era enérgica, mas falava baixo e não usava castigos corporais. Quem lembra dela, na casa dos 80, fala da velhinha negra de cabelos grisalhos, amarrados atrás da nuca, vestida de roupas escuras e sandálias.

Apesar de pobre e solteira, teve alguns filhos adotivos e inúmeros afilhados. Faleceu cega, aos 92 anos de idade, na casa de uma amiga ex-escrava, e até hoje, em Guimarães, "a uma mulher inteligente e instruída chamam: Maria Firmina"!

Mariana Crioula

Viveu em Paty do Alferes, distrito da Vila de Vassouras, região do Vale do paraíba - Rio de janeiro. Era Mucama e costureira de Francisca Xavier, senhora das fazendas cafeeiras Maravilha e Freguesia. E embora fosse casada com o negro José, escravo que trabalhava na lavoura, vivia na casa-grande.

Em 5 de novembro de 1838 se deu a maior fuga de escravos da história fluminense, e o foco principal estava na fazenda Maravilha. A fuga fora liderada pelo ferreiro Manuel Congo, que levou consigo negros das fazendas vizinhas inclusive da fazenda Freguesia, onde vivia Mariana. Esta juntou-se, então, aos fugitivos tomando a direção do grupo, no qual ficou conhecida como a rainha do quilombo, fazendo par com Manuel Congo, o rei.

Situaram-se nas matas de santa Catarina, nas fraldas da serra da Mantiqueira até serem atacados por tropas comandadas por um coronel da Guarda Nacional, que relatara no autos da época que a negra Mariana, de 30 anos estava a frente dos revoltosos, resistindo ao cerco da polícia sob os gritos de "Morrer Sim, entregar não!"
No dia 12 de novembro, Mariana Crioula e Manuel Congo foram feitos prisioneiros, juntamente com outros líderes da revolta e o grupo se dispersou.

No julgamento, dezesseis escravos, sete mulheres e nove homens foram indiciados. Mariana, que havia demostrado valentia na mata, quando interrogada, procurou dissimular seu verdadeiro papel nos acontecimentos e alegou que havia sido induzida à fuga. Mesmo tendo sido delatada por outros réus como a rainha do Quilombo, Mariana fora absolvida. O único acusado de homicídio foi Manuel Congo, cuja sentença de morte por enforcamento foi executada no início do mês de setembro de 1839.

Fonte: Dicionário Mulheres do brasil - De 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Jorge Zahar Editor, 2000.


Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz

Ao ser presa pela Inquisição em Lisboa, acusada de feitiçaria, Rosa afirmou que era natural da Costa da Mina (África), da nação Courana, e que foi para o Rio de Janeiro aos 6 anos de idade (1725), sendo comprada pelo Sr. Azevedo, que a mandou batizar e, aos 14 anos, a deflorou, vendendo-a para as Minas Gerais.

Na Vila da Inconfidência foi escrava da mãe de Frei Santa Rita Durão, para quem trabalhava como meretriz até o dia em que "teve o espirito maligno, o qual a molestava muito, até que o Padre Gonçalves Lopes fez com os seus exorcismo que declarasse o tal espirito". Quando possuída, Rosa entrava em transe nas igrejas, caindo desmaiada no chão. O bispo de Mariana mandou uma equipe de teólogos examiná-la para constatar se era demoníaca ou embusteira: como castigo por seu comportamento herético foi açoitada em praça pública, ficando paralítica de um braço. Acreditando na sua sinceridade, o padre exorcista deu-lhe alforria e levou Rosa para o Rio de Janeiro.

Em 1754 fundaram o Recolhimento de Nossa Senhora do Parto, reunindo ali uma dezena de donzelas pobres, mais da metade negras. Sob a orientação dos Franciscanos, Rosa aprendeu a ler e iniciou o livro Sagrada Teologia de Amor de Deus Luz Brilhantes das Almas Peregrinas, no qual registra suas visões e experiências místicas. O recolhimento passou a ser local de romaria onde os devotos iam buscar relíquias da regiosa negra.

Por "imposição divina", Rosa a ser chamada Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz em homenagem a uma Santa oriental que de prostituta se transformara em eremita. Presa pelo Bispo do Rio de Janeiro, como suspeita na fé e feitiçaria, foi juntamente com seu confessor enviada para julgamento em Lisboa. Confessou várias vezes todas as visões e êxtases. Deve ter morrido antes da sentença final, pois seu processo não foi concluído.

Tia Ciata

É difícil não se comover, ainda hoje, com a ala das baianas nos desfiles das escolas de samba. Todo ano estão lá emanando energia, emoção e sabedoria. Talvez em memória à Tia Ciata e às tias baianas que fizeram a história da pequena África, reduto baiano do centro do Rio de Janeiro.
Ciata, Perpétua, Bebiana, Amélia e Carmem pelas suas posições de destaque nos terreiros e pela sua participação nas principais atividades do grupo negro foram, certamente, responsável pela permanência das tradições africanas e pela sua expansão e revitalização na cidade, e quiçá em todo o Brasil, sendo as escolas de samba apenas dos exemplos.

Ciata, Hilária Bastista de Almeida (1854-1924), filha de Oxum, nasceu em Salvador, sendo iniciada no santo na casa de Bambichê, da nação Ketu. Aos 22 anos, trazendo consigo uma filha mudou-se para o Rio de Janeiro, formando nova família. Continuou os preceitos do santo na casa de Jõao Alabá, tornando-se Mãe-Pequena. Respeitada pelos seus conhecimentos na religião, não deixava de comemorar em sua casa as festas dos orixás, depois da cerimônia, armava pagode. As festas duravam 3 dias: na sala, o baile, os mais velhos tocavam samba de partido alto e Ciata, partideira, "cantava com autoridade". No terreiro havia samba raiado e, ás vezes, roda de samba para os mais moços.

Doceira de mão cheia - tinha tabuleiro no centro da cidade -, conhecia também a cozinha dos orixás. Punha barraca de comida na festa da Penha, ao redor da qual formava roda-de-samba. Dela participavam Heitor dos Prazeres, Donga, Sinhô e Pixinguinha, alguns deles ainda ilustres desconhecidos. Ciata também alugava roupas de baianas para teatros e carnaval. Sua casa tornou-se, então, a capital da Pequena África. Era um dos pontos principais dos cortejos de carnaval, onde os ranchos passavam e reverenciavam a velha baiana.

Sua família Sá no rancho Rosa Branca, no Recreio das Flores, no qual sua neta Lili foi porta-estandarte, e no sujo O Macaco é Outro. Ciata morreu em 1924. A única foto localizada até agora desapareceu nas mãos de um jornalista. Resta-nos a descrição da avó, deixada po Lili: "Quando ela ia nas festas usava saia de baiana, batas, xales (...) na cabeça não usava torso. Só botava aquelas saias e aqueles xales de tuquim.

Xica da Silva

Não se sabe a data de nascimento de Francisca da Silva, sabe-se que ela era filha de uma mulher negra com um português, chamados Maria da Costa e Antônio Caetano de Sá, respectivamente.

O primeiro filho de Chica teve como pai o médico português Manuel Pires Sardinha, que o reconheceu como filho bastardo em seu testamento, em 1755, nomeando-o como um de seus herdeiros.

A carta de alforria de Chica, foi assinada pelo então desembargador João Fernandes de Oliveira, com quem passou a viver maritalmente, não eram casados pois a legislação não permitia casamento entre senhores brancos e negras forras. Passaram a viver na região de Vila do Príncipe e do Tejuco, onde o Sr. João Fernandes administrava o contrato para extração de diamantes concedido pela Coroa a seu pai.

Chica ficou reconhecida na região como a Chica que manda, já em 1754 possuía um sobrado e alguns escravos. Sua casa ficava na rua do Bonfim, local prestigiado do arraial, com uma capela própria, possuía ainda, nos arredores do Tejuco uma espécie de castelo, a chácara de Palha, com capela e teatro.

Entre 1755 e 1770 tiveram 13 filhos. Chica fez questão de educar suas nove filhas no Recolhimento de Macaúbas, melhor educandário da região das Minas. Cinco de suas filhas fizeram os votos e se tornaram freiras, as outras largaram o hábito para se casar.

Em 1771, João Fernandes teve que se ausentar do Brasil, convocado pela coroa para prestar contas sobre a acusação de violar regras do contrato que tinha com a corte, mas retornou a colônia algum tempo depois.

Durante a ausência de João Fernandes Chica buscou vários meios para a manutenção de sua condição. Associou-se a várias Irmandades, que eram entidades que agregavam indivíduos de mesma origem e condição, o que lhe proporcionava uma forma de obter distinção e reconhecimento social. Na Irmandade das Mêrces, que congregava pardos, Chica, chegou a ser juíza. No livro da Irmandade do santíssimo do tejuco, existem dezenas de registros de pagamentos feitos por Chica para viabilizar casamentos, batismos e enterros de seus escravos. João Fernandes faleceu em Lisboa, em 1779.

Chica da Silva se utilizou dos meios disponíveis às mulheres escravas, que eram a maioria alforriada. De acordo com o censo 1738 elas constituíam 65% do total de 387 forros, contra 37% dos homens. Ao longo de sua trajetória, ela agiu de forma a diminuir o preconceito que a cor e a escravidão lhe conferiam, para isso promoveu a ascensão social de seus filhos. Seu filho João Fernandes tornou-se o principal herdeiro do pai tendo recebido dois terços de seus bens. José Agostinho tornou-se padre, e o pai deixou-lhe uma renda para que constituísse uma capela. Simão Pires sardinha estudou em Roma, comprou um título de nobreza e uma patente de tenente-coronel da cavalaria de Minas Gerais.

Chica da Silva morreu no dia 15 de fevereiro de 1796, no Tejuco. Foi enterrada na Igreja de São Francisco de Assis, cuja irmandade era reservada a elite branca do arraial, o que demostra sua importância e prestígio.

Fonte:Dicionário Mulheres do Brasil - de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Organizado por Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil. Jorge Zahar Editor, RJ, 2000.
Para Ver: Xica da Silva - filme dirigido por Cacá Diegues de 1976.
                                                                      
Auta de Souza

Filha de uma próspera família, Auta de Souza (1876-1901) nasceu em Macaíba, Rio Grande do Norte. Seu pai era proprietário da firma Paula, Eloy & Cia. e dirigente local do Partido Liberal. Órfã de mãe aos 2 anos de idade e de pai aos 4 anos, foi criada pela avó.

Seu primeiro público, ainda menina, compunha-se de mulheres do povo e velhos escravos, para quem lia, entre outras coisas, as façanhas de Carlos Magno. Em 1887, foi estudar no Colégio São Vicente de Paula, dirigido por religiosas francesas. Ai aprendeu francês, leu os clássicos e os místicos. Devido à saúde frágil - já estava com tuberculose -, retornou à casa da avó, onde completou sua formação na biblioteca do irmão, Henrique Castriciano, poeta, jornalista e deputado federal pelo Rio Grande do Norte na República Velha.

Em 1894, fundou o clube do biscoito, que promovia reuniões de declamação, jogos e danças na casa de seus associados. Versejando em português e francês, Auta passou a colaborar na melhor imprensa do seu Estado, antes de completar 20 anos. Seu livro O Horto, publicado em 1901, prefaciado por Olavo Bilac, foi elogiado pela crítica e lido com avidez tanto por intelectuais como pelo povo, que passou a repetir muitos de seus versos sob a forma de cantigas.

Considerada por Otto Maria Carpeaux como a mais alta expressão do nosso misticismo, alguns versos da poetisa que morreu aos 25 anos de idade: "Estrela fulgem da noite em meio Lembrando Lírios loiros a arder... E eu tenho a treva dentro do seio...Astro! velai-vos, que eu vou morrer!".